quarta-feira, setembro 13, 2006

Acordou então naquele dia com uma sensação de missão cumprida, sem saber qual. Foi tomado por uma leve angústia que se fazia física em todo seu corpo. Constantes e incômodos pulsos fluíam por sua espinha, de cima abaixo, não dando trégua um minuto que fosse. O estômago em revolta o impedia de comer com prazer, enquanto um leve enjôo parecia pedir por comida constantemente. A dúbia sensação o acompanharia por todo o dia. O mais desconfortável alívio. E assim foi contando regressivamente as horas para o fim do dia. Estavam em doze e demorariam a passar. Abriu um livro, seu favorito, mas não conseguia se concentrar por um parágrafo que fosse. Ligou a tv exclusivamente pelo barulho. Botou uma música para tocar. Nada ajudava o tempo passar. Pensou nela e resolveu sair para andar naquela vizinhança tão conhecida sua, mas tão cheia de novidades sempre. Não conseguiu perceber nada de diferente, talvez pela primeira vez desde que se mudara para lá. Comprou um doce, mais pela glicose que seu corpo urgia. Seguiu caminhando e entrou no cinema. Sentou por dois filmes inteiros e não era capaz de lembrar uma cena sequer. Nem mesmo os títulos dos filmes conseguiu guardar. Tomou o rumo de casa, diminuindo o ritmo dos passos para que o tempo andasse mais depressa. O banho lento ao chegar foi seu primeiro momento de prazer do dia. Deitou-se. Abriu um livro de contos e voltou a esperar as horas passarem. Dormiu até o meio do dia seguinte. Acordou sem a sensação do fim, como antes, e sem a angústia física que o atormentara. A ressaca o tinha deixado.