Foi assim de imediato. Olharam-se, mas não de repente. O encontro já era esperado. Mas sentiram sem querer o mesmo desejo. Enquanto a noite caía, a vontade de se terem só fazia aumentar. Mas continham o crescente ardor, resultando em forte tensão no ar, que chegava inclusive a incomodar. Ele já tinha feito um nó nos músculos das costas, que agora doía. É difícil disfarçar tanto querer. Ela tentava enganar sorrindo, mas era evidente o desconforto. A paciência foi diminuindo e até a leves farpas trocaram. Culpavam-se um ao outro pela falta de coragem de falar. Ele era tímido e, perto dela, inseguro. Ela, extrovertida e segura somente com ele. Enquanto ele só queria ter coragem de se declarar, sobrava a ela medo de se entregar. De depender. Achava que a liberdade era não se apegar. E queria ser sempre livre. Ele se via preso sem confessar. Via nela sua chance de tirar aquele fardo de si. A escolha de estar ali, com ela, já o fazia sentir independente. Mesmo que à vontade dela se submetesse, eram escolhas conscientes as dele. Ela reagia por instinto. Queria fugir daquele porto. Não podia abaixar a guarda. Sempre fora arredia, mas antes por desconforto. O medo agora era conhecer um jeito novo de se relacionar. Era ter alguém em quem confiar. Até que se deram as mãos, para que ele a ajudasse a pular. Apesar da inicial insignificância do gesto, as mãos não quiseram mais se soltar. Olharam-se e se perceberam por inteiro. Ele, agora seguro de si, aproximou seus lábios aos dela, mas sem perder seus olhos. Ela temeu. Tremeu. Viu toda sua proteção desabar. Sentiu-se frágil como sempre quisera evitar. Era tarde demais para conter. O momento à iminência do beijo já tornara inevitável tudo mais que estava para acontecer.
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