sábado, outubro 01, 2005

Estava atrasado para o compromisso que não devia faltar, quando cruzou com ela. Não a conhecia. Mas não podia perdê-la. Já não saberia viver sem ela. Esqueceu a hora. Jogou para o alto sua única segurança. Sabia que outra atitude não lhe cabia. Sabia que a falsa sensação de plenitude e segurança se esvairia. Foi atrás daquela moça. Mas ela andava rápido e o caminho era confuso. Ruas, esquinas e sinais mil. Ainda tinham as pessoas pelo caminho. Em quantidade que ele jamais vira. Com pressa e sem respeito. Empurravam. Uma loucura tomou conta dele. Um instinto animal. Os pilares de sua falsa felicidade haviam se ruído naquele instante. E correu e empurrou e todo peso que carregava largou. Seguiu atrás dela. A distância era grande, mas diminuía. Agarrou-se àquela chance. Corria. Pensou em gritar mas desistiu. Por um segundo a perdeu e como nunca antes um vazio sentiu. Chegou. Puxou-a pelo braço como se já se conhecessem. Não foi rude. Havia tanto carinho no gesto que ela percebeu. Mas já tinha alguém. Era feliz. Gostou do gesto. Gostou dele. Mas não podia. Não queria. Não cabia. Ele foi pra casa então. Já não tinha nada. Mas sentia-se bem. Não como se ela o quisesse. O súbito enfrentamento de tudo que acreditava, o desprendimento instantâneo de tudo que tinha o libertara de todos seus conceitos. Suas idéias mudaram. Via a felicidade como alcançável. Acreditou pela primeira vez no amor.