sábado, agosto 05, 2006

Foi em meio àquela gente toda reunida por motivo que não mais me vem à mente que te vi pela primeira vez. Tinha diversas outras para olhar, diversas você para reparar. Mas foi no cadarço de seu tênis direito que primeiro reparei. Desamarrado. Como quase sempre ficara e, só saberia depois, quase sempre estaria. Você não prestava muita atenção ao amarrar os cadarços, eu perceberia mais tarde. Então estava eu sentado, olhando em meio a tantos outros pés calçados, o seu: o do cadarço desamarrado. Não tinha visto ainda mais nada em você. Não era capaz de te reconhecer senão pelos tênis. Foi então que, contrariando meu jeito, te chamei pra dançar, não sem antes amarrar seu cadarço. Aventuramos-nos então àquela música que tocava e dançamos nosso primeiro samba juntos. Em meio às sensações despertas pela proximidade, continuamos a rodar, até que escutávamos somente uma outra música, só nossa. Da dança para o beijo, ou para o beijo na dança, não se demorou muito. E este trouxe o que eu já sabia mesmo antes de conhecer. Sabia existir, mas não conhecia. Demos início (acho até que foi o início que se deu em nós, de tão inevitável que pareceu) então à seqüência que até hoje me completa, de tênis com cadarços desamarrados e sambas a dois dançados. E hoje, te conhecendo por inteira, ainda reparo em seus pés, como da vez primeira.