A pretensão fatal
"Nossa civilização depende de uma extensa ordem de cooperação humana inapropriadamente chamada de capitalismo. Para entender essa civilização é preciso perceber que sua complexa ordem de cooperação social não resultou de projeto intencional. Emergiu de um processo espontâneo de adoção de práticas tradicionais e princípios morais que nem sempre agradavam aos indivíduos, cujo significado nem sempre compreendiam, mas que, entretanto, espalharam-se rapidamente por seleção evolucionária: aumento relativo da população e riqueza dos grupos que os adotaram. A adoção involuntária, relutante, mesmo dolorosa destas práticas é a faceta menos compreendida do progresso humano.”
A adoção “bem-sucedida” de práticas do capitalismo por recém-convertidos como a Rússia, a China e os países do Leste da Europa são um exemplo contemporâneo desta reflexão de Friedrich Von Hayek em “A pretensão fatal: os erros do socialismo” (1988). Joseph Schumpeter em seu clássico “Capitalismo, socialismo e democracia” (1942) havia previsto o inevitável colapso do capitalismo e a transição para o socialismo. Pois bem, meio século após a desastrada profecia, temos visto exatamente o inverso ocorrendo em escala planetária.
“Os socialistas desconsideram as práticas e princípios que tornaram possível a extensa ordem de cooperação voluntária da civilização ocidental. Assumem que podem desenhar regras alternativas de coordenação de esforços apelando a nossos instintos de solidariedade. Mas se a espécie humana deve sua própria existência a regras de conduta de eficácia comprovada, pode simplesmente não haver alternativas viáveis, sendo a opção entre a ordem de mercado e o socialismo uma questão de sobrevivência”, prossegue Hayek.
É compreensível que por solidariedade, por nossa identidade latino-americana, tenhamos simpatia e compreensão por figuras como Fidel, Chávez e Morales. Mas só a desonestidade intelectual, a ignorância econômica ou a cegueira ideológica poderiam atribuir ao surrado discurso socialista e populista que praticam qualquer esperança de um futuro melhor para seus povos.
Como alerta o historiador de Cambridge Orlando Figes em seu monumental “A tragédia de um povo: a revolução russa” (1996): “A revolução russa promoveu uma ampla experiência de engenharia social, talvez a maior da História da Humanidade. O velho mundo estava condenado e cabia ao socialismo, conforme os versos da Internacional, refazer o mundo. O teste resultou em completa tragédia”. Entretanto, apesar da evidência histórica, conclui Figes: “Não é certo que as sociedades civis emergentes adotarão modelos políticos ocidentais. O triunfalismo liberal democrata não tem razão de ser... caso a grande maioria do povo permaneça alienada ou excluída dos benefícios do capitalismo vitorioso.”
Paulo Guedes para O Globo.
"Nossa civilização depende de uma extensa ordem de cooperação humana inapropriadamente chamada de capitalismo. Para entender essa civilização é preciso perceber que sua complexa ordem de cooperação social não resultou de projeto intencional. Emergiu de um processo espontâneo de adoção de práticas tradicionais e princípios morais que nem sempre agradavam aos indivíduos, cujo significado nem sempre compreendiam, mas que, entretanto, espalharam-se rapidamente por seleção evolucionária: aumento relativo da população e riqueza dos grupos que os adotaram. A adoção involuntária, relutante, mesmo dolorosa destas práticas é a faceta menos compreendida do progresso humano.”
A adoção “bem-sucedida” de práticas do capitalismo por recém-convertidos como a Rússia, a China e os países do Leste da Europa são um exemplo contemporâneo desta reflexão de Friedrich Von Hayek em “A pretensão fatal: os erros do socialismo” (1988). Joseph Schumpeter em seu clássico “Capitalismo, socialismo e democracia” (1942) havia previsto o inevitável colapso do capitalismo e a transição para o socialismo. Pois bem, meio século após a desastrada profecia, temos visto exatamente o inverso ocorrendo em escala planetária.
“Os socialistas desconsideram as práticas e princípios que tornaram possível a extensa ordem de cooperação voluntária da civilização ocidental. Assumem que podem desenhar regras alternativas de coordenação de esforços apelando a nossos instintos de solidariedade. Mas se a espécie humana deve sua própria existência a regras de conduta de eficácia comprovada, pode simplesmente não haver alternativas viáveis, sendo a opção entre a ordem de mercado e o socialismo uma questão de sobrevivência”, prossegue Hayek.
É compreensível que por solidariedade, por nossa identidade latino-americana, tenhamos simpatia e compreensão por figuras como Fidel, Chávez e Morales. Mas só a desonestidade intelectual, a ignorância econômica ou a cegueira ideológica poderiam atribuir ao surrado discurso socialista e populista que praticam qualquer esperança de um futuro melhor para seus povos.
Como alerta o historiador de Cambridge Orlando Figes em seu monumental “A tragédia de um povo: a revolução russa” (1996): “A revolução russa promoveu uma ampla experiência de engenharia social, talvez a maior da História da Humanidade. O velho mundo estava condenado e cabia ao socialismo, conforme os versos da Internacional, refazer o mundo. O teste resultou em completa tragédia”. Entretanto, apesar da evidência histórica, conclui Figes: “Não é certo que as sociedades civis emergentes adotarão modelos políticos ocidentais. O triunfalismo liberal democrata não tem razão de ser... caso a grande maioria do povo permaneça alienada ou excluída dos benefícios do capitalismo vitorioso.”
Paulo Guedes para O Globo.
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